Calor do subsolo, frescor urbano: Emirados Árabes testam resfriamento geotérmico em Masdar City
- Energy Channel United States

- 3 de out.
- 2 min de leitura
Nos Emirados Árabes Unidos, o ar-condicionado não é luxo é sobrevivência. Em pleno Golfo Pérsico, onde as temperaturas podem ultrapassar 50 °C, o resfriamento dos ambientes chega a consumir até 70% da eletricidade nacional. Esse desafio energético e climático transformou Masdar City, a cidade sustentável em construção nos arredores de Abu Dhabi, em um verdadeiro laboratório para novas soluções.

Entre elas, uma inovação inédita no Oriente Médio: o G2COOL, primeira usina de resfriamento geotérmico da região, resultado da parceria entre a estatal ADNOC e a empresa de climatização urbana Tabreed. Diferente dos projetos geotérmicos tradicionais, voltados para geração elétrica, o G2COOL utiliza o calor subterrâneo diretamente para produzir água gelada destinada ao ar-condicionado central de Masdar City. Hoje, o sistema já cobre aproximadamente 10% da demanda de resfriamento da cidade.
Como a água quente vira ar frio
A lógica por trás do projeto pode parecer contraintuitiva: poços geotérmicos extraem água a temperaturas entre 80 °C e 100 °C de um aquífero profundo. Essa água, embora insuficiente para mover turbinas a vapor, é quente o bastante para acionar um sistema de resfriamento por absorção — tecnologia que substitui o compressor elétrico por calor.
Nesse ciclo, o calor da água geotérmica aquece uma solução de brometo de lítio e água, separando o vapor de água que depois se condensa e resfria novamente. No processo, a água gelada alcança temperaturas próximas de 5 °C e circula por tubulações que alimentam os sistemas de ar-condicionado dos prédios.
Embora o COP (Coeficiente de Performance) desse tipo de resfriador varie entre 0,6 e 0,8, menor que os compressores elétricos tradicionais, a grande vantagem está no insumo: o calor geotérmico é gratuito e reduz drasticamente o consumo de eletricidade em uma região onde cada quilowatt economizado faz diferença.
Sustentabilidade subterrânea
O G2COOL não é alimentado por vulcões, mas por um aquífero quente. Para garantir a sustentabilidade do sistema, após ceder calor, a água é reinjetada no subsolo por poços específicos, mantendo a pressão e permitindo que o reservatório se recarregue naturalmente.
Esse processo evita o esgotamento da fonte e pode manter a operação por décadas, desde que bem gerido. O calor residual do ciclo, em torno de 30 °C a 40 °C, não é reaproveitado — pois elevar artificialmente a temperatura antes da reinjeção reduziria a eficiência do sistema.
Geotermia além da eletricidade
O caso de Masdar City reforça uma tendência crescente: o uso da energia geotérmica não apenas para geração de eletricidade, mas também para aplicações térmicas diretas — seja no aquecimento de distritos urbanos em países frios ou, como no Golfo, no resfriamento de cidades inteiras.
Se bem-sucedido, o projeto G2COOL pode se tornar um modelo para outras regiões áridas e quentes do planeta, mostrando que o calor da Terra também pode ser fonte de frescor urbano.
Calor do subsolo, frescor urbano: Emirados Árabes testam resfriamento geotérmico em Masdar City






























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