Como tornar a eficiência energética amigável ao usuário e tangível aos resultados?
- Energy Channel United States

- 29 de out.
- 5 min de leitura
Por Glauber Cavalcante
Diretor de gestão e inteligência energética na EMANA Energy, com ampla atuação em projetos de eficiência energética, com Benchmark de 12%, voltados à redução de consumo de energia com investimento inicial zero. É doutorando e mestre em Eficiência Energética (Lean Energy) pela Universidade Federal do Ceará (UFC), engenheiro eletricista (UFC) e possui certificação Green Belt Lean Six Sigma.

Em um cenário em que a transição para a sustentabilidade deixa de ser apenas uma meta corporativa para se tornar um imperativo de mercado e de cidadania, a eficiência energética assume um papel central. Contudo, para além dos painéis, medidores e relatórios técnicos, persiste um desafio: como fazer com que a eficiência energética seja amigável (‘entendível’) ao usuário seja ele gestor, colaborador ou consumidor final e, ao mesmo tempo, tangível e mensurável nos resultados, traduzindo-se em redução de consumo, custos e impactos ambientais?
Um exemplo simbólico dessa dificuldade está na própria fatura de energia elétrica.
Trata-se de um documento essencial, mas altamente técnico, repleto de termos e códigos pouco intuitivos, que dificultam a compreensão do consumo de energia elétrica e das oportunidades de economia. Para a maioria dos consumidores, a fatura não é nem amigável e nem tangível apresenta dados, mas não traduz significado. Uma fatura redesenhada sob o olhar da eficiência energética e do usuário poderia destacar indicadores de desempenho, metas alcançadas, emissões evitadas e até comparativos históricos em linguagem visual simples e acessível.
A resposta a essa questão pode ser encontrada na integração de três eixos o design humano, a medição visual e a cultura de ação que, juntos, consolidam uma nova articulação de pensar e vivenciar a eficiência energética sob a ótica do ESG: o “E” representando a economia de energia e a redução de emissões de CO₂, o “S” traduzido em treinamento e engajamento de pessoas, e o “G” incorporando a eficiência energética ao compliance e à governança corporativa das organizações.
1. Design humano: tornar a eficiência acessível
Quando se fala em eficiência energética, o discurso ainda é dominado por termos técnicos como kWh, fator de potência, demanda, dimerização e termografia. No entanto, para que a eficiência seja realmente amigável, é preciso traduzi-la para uma linguagem menos técnica e mais humana.
Isso significa transformar dados em experiências compreensíveis, com interfaces que utilizem imagens, cores e alertas simples, permitindo ao usuário entender de forma imediata o que está acontecendo. Um painel digital que exibe “economia equivalente a X árvores preservadas” ou “X% de redução na conta de energia” comunica muito mais do que um número frio como “–120 kWh”. O usuário final não precisa dominar a física por trás de uma lâmpada LED, de um inversor solar ou de um motor elétrico ele precisa perceber o resultado: menos calor no corredor, a luz mais uniforme, o ambiente mais silencioso.
A usabilidade é um fator decisivo nesse processo; analogias simples, dashboards amigáveis em dispositivos móveis e alertas por aplicativo ou SMS para manutenção preventiva fazem diferença na forma como o usuário interage com a eficiência. Quanto mais curto for o caminho entre o problema e a ação, maior será o engajamento.
Em essência, trata-se de tornar a eficiência empática colocar o usuário no centro, utilizando uma linguagem clara, interfaces intuitivas e resultados que façam sentido no cotidiano de quem vive a energia na prática. Esse princípio dialoga diretamente com o “S” do ESG, ao promover uma cultura de aprendizado e inclusão energética.
2. Medição visual: tornar os resultados tangíveis
Ser “amigável” sem ser “visível” pode parecer esteticamente agradável, mas não produz transformação real. Para que a eficiência energética seja verdadeiramente tangível, ela precisa gerar evidências mensuráveis e visualmente compreensíveis.
O monitoramento em tempo real, aliado a comparativos claros entre o consumo antes e depois das ações implementadas, permite que o usuário perceba de forma concreta o impacto das mudanças. A conversão de indicadores técnicos em métricas mais próximas da realidade cotidiana como “economia equivalente a 30 litros de diesel”, “X toneladas de CO₂ evitadas” ou “x% de redução no consumo de iluminação” torna os resultados palpáveis.
Da mesma forma, relatórios visuais e narrativas ilustradas, com fotos, gráficos simples e histórias de transformação, comunicam muito mais do que tabelas e números isolados.
O feedback imediato também é essencial: alertas do tipo “você economizou hoje” ou “meta atingida” mantêm o usuário engajado e consciente de sua contribuição. Quando a pessoa consegue enxergar que realmente economizou, que a iluminação agora consome metade ou que o ambiente está mais confortável e a conta de energia caiu 15%, a eficiência deixa de ser uma promessa abstrata e se torna realidade. Esses indicadores reforçam o “E” do ESG, pois traduzem o compromisso com a eficiência e a descarbonização em resultados mensuráveis, auditáveis e transparentes.
3. Cultura de ação: integrar, comunicar, valorizar
Mesmo com um bom design e sistemas de medição eficientes, sem uma cultura de eficiência seja ela interna ou externa o impacto tende a se diluir com o tempo. Para que a eficiência energética seja verdadeiramente incorporada, é essencial cultivar três pilares: informação, comportamento e reconhecimento.
A informação educativa tem papel fundamental nesse processo, por meio de treinamentos, vídeos curtos e workshops que expliquem o “porquê” das ações, seus impactos e as formas pelas quais cada pessoa pode contribuir.
O comportamento ativo é outro ponto-chave, envolvendo equipes como agentes de transformação, e não apenas como espectadores. Isso pode se traduzir em práticas simples, como monitorar o consumo de equipamentos, sugerir desligamentos estratégicos ou registrar melhorias observadas.
Já o reconhecimento e a gamificação ajudam a manter o engajamento e o entusiasmo, com iniciativas como premiações, rankings de economia entre setores, murais de conquistas e campanhas internas que celebram resultados.
Quando o usuário se sente parte do processo, a mudança deixa de ser uma obrigação e passa a ser um valor compartilhado. Integrar a eficiência energética à identidade organizacional ou residencial e não a tratar apenas como um projeto técnico é o que diferencia uma instituição que simplesmente “tem” eficiência daquela que realmente “vive” a eficiência. Essa integração representa o fortalecimento do “S” (treinamento e engajamento) e do “G” (gestão e governança), consolidando a eficiência energética como pilar estratégico da cultura organizacional.
Convergência: do técnico ao humano
A eficiência energética não deve ser vista apenas como um item técnico de uma agenda corporativa, mas estrategicamente posicionada como uma experiência humana e valor mensurável, capaz de transformar a forma como nos relacionamos com a energia.
Quando associada ao ESG, a eficiência passa a ser um indicador transversal: gera valor ambiental (E), social (S) e de governança (G), fortalecendo o propósito de organizações comprometidas com o futuro. O verdadeiro diferencial está na combinação equilibrada entre técnica, comunicação e mensuração. Quando a eficiência energética se torna amigável ao usuário acessível, compreensível e aplicável e, ao mesmo tempo, tangível visível, mensurável e reconhecida o discurso se converte em impacto real.
É nesse ponto que ela deixa de ser uma meta abstrata e passa a fazer parte da cultura das pessoas e das organizações. Convida-se gestores, empreendedores, engenheiros, educadores e criadores de conteúdo a refletirem: como estamos contando a história da eficiência energética? Será que o usuário se enxerga como parte dela?
Os resultados são claros, valorizados e comunicados de forma envolvente? Mais do que economizar energia, trata-se de gerar valor humano, perceptível e sustentável. Se quisermos de fato cumprir nosso papel como agentes da mudança, precisamos transformar a eficiência energética em algo que todos possam tocar, sentir e compreender. Ao integrar os princípios de ESG à eficiência energética, unimos técnica, cultura e propósito e transformamos energia em valor, impacto e legado.
Como tornar a eficiência energética amigável ao usuário e tangível aos resultados?






























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