ESTRATÉGIAS DIVERGENTES: COMO A XIAOMI CONQUISTOU O MERCADO DE VEÍCULOS ELÉTRICOS ONDE A APPLE FRACASSOU
- Energy Channel United States

- 13 de jul.
- 4 min de leitura
Por EnergyChannel | Redação
Publicado em 13 de julho de 2025
Em uma demonstração impressionante de agilidade estratégica e compreensão do mercado de mobilidade elétrica, a gigante chinesa de tecnologia Xiaomi registrou mais de 289 mil pedidos em apenas uma hora para seu novo utilitário esportivo elétrico, enquanto a Apple, após investir aproximadamente US$ 10 bilhões em seu projeto de veículo autônomo, abandonou definitivamente seus planos. Este contraste revela lições fundamentais sobre as diferentes abordagens para a transição de fabricantes de eletrônicos para o setor automotivo elétrico.

Abordagens contrastantes para a eletrificação
A trajetória das duas empresas de tecnologia no setor automotivo não poderia ser mais distinta. Enquanto a Apple passou mais de uma década em desenvolvimento secreto, sem nunca apresentar um protótipo funcional ao público, a Xiaomi adotou uma estratégia mais ágil e transparente, revelando seu primeiro modelo apenas três anos após anunciar sua entrada no setor.
"A Apple buscava reinventar completamente o conceito de automóvel, com foco em autonomia total e design revolucionário. Já a Xiaomi adotou uma abordagem mais pragmática, focando em veículos elétricos convencionais com diferenciais tecnológicos incrementais", explica Ricardo Monteiro, analista de mobilidade elétrica do Instituto de Transição Energética, em entrevista ao EnergyChannel.
O sucesso meteórico do SU7 da Xiaomi
O Xiaomi SU7, utilitário esportivo elétrico da fabricante chinesa, tornou-se um fenômeno de vendas imediatamente após seu lançamento. Com preços iniciais significativamente mais competitivos que concorrentes como Tesla e BYD, o veículo atraiu 289 mil pedidos em sua primeira hora de disponibilidade.
O modelo combina características que ressoam com o consumidor contemporâneo:
- Autonomia de até 800 km (padrão CLTC)
- Integração perfeita com o ecossistema de produtos Xiaomi
- Capacidade de carregamento ultrarrápido (10-80% em 15 minutos)
- Sistema avançado de assistência ao motorista
- Preço inicial aproximadamente 30% inferior a concorrentes com especificações similares
"A Xiaomi transferiu para os automóveis a mesma filosofia que aplicou em smartphones: oferecer especificações de ponta a preços mais acessíveis que concorrentes ocidentais, mantendo margens menores e compensando com volume", analisa Fernanda Campos, especialista em mercados asiáticos da consultoria AutoTech Global.
O projeto abandonado da Apple: lições de um investimento bilionário
O "Projeto Titan" da Apple, iniciado em 2014, consumiu aproximadamente US$ 10 bilhões em pesquisa e desenvolvimento antes de ser oficialmente encerrado este ano. Fontes internas revelam que a empresa enfrentou desafios significativos:
1. **Mudanças constantes de direção estratégica**: O projeto alternou várias vezes entre desenvolver um veículo completo e focar apenas em software de condução autônoma.
2. **Rotatividade de liderança**: Mais de cinco executivos diferentes lideraram o projeto ao longo de sua existência.
3. **Perfeccionismo paralisante**: A busca por um produto revolucionário impediu a empresa de avançar com versões intermediárias.
4. **Complexidade da cadeia de suprimentos**: Dificuldades em estabelecer parcerias com fornecedores automotivos tradicionais.
"A Apple subestimou a complexidade de fabricar automóveis. Não é como produzir um novo iPhone, onde a empresa já domina toda a cadeia de valor", observa Carlos Mendes, professor de gestão de inovação da Universidade Federal de São Paulo.
Estratégias fundamentalmente diferentes
A análise comparativa revela abordagens diametralmente opostas:

O ecossistema como vantagem competitiva
Um fator crucial para o sucesso da Xiaomi foi sua capacidade de integrar o veículo ao ecossistema de produtos já existente da marca, que inclui smartphones, dispositivos domésticos inteligentes e wearables.
"O SU7 não é apenas um carro, é uma extensão do ecossistema Xiaomi. Usuários podem controlar funções do veículo pelo smartphone, sincronizar preferências entre dispositivos e até mesmo utilizar câmeras domésticas inteligentes para monitorar o veículo estacionado", explica Zhang Wei, diretor de tecnologia automotiva da Associação Chinesa de Veículos Elétricos.
A Apple, ironicamente conhecida por seu ecossistema integrado de produtos, não conseguiu transferir essa vantagem para o setor automotivo, possivelmente por nunca ter chegado perto o suficiente de um produto final.
Implicações para o mercado global de veículos elétricos
O sucesso da Xiaomi representa mais um capítulo na ascensão das montadoras chinesas no mercado global de veículos elétricos. Analistas projetam que a empresa pode rapidamente se tornar um dos cinco maiores fabricantes de EVs do mundo, caso mantenha sua trajetória atual.
"Estamos observando uma reconfiguração completa do setor automotivo global. Fabricantes de tecnologia chineses estão desafiando tanto montadoras tradicionais quanto novos entrantes como a Tesla", avalia Monteiro. "A velocidade com que a Xiaomi escalou sua produção é particularmente impressionante."
Para a Apple, o abandono do projeto automotivo representa um raro fracasso estratégico, mas também uma decisão pragmática de focar recursos em áreas onde mantém vantagens competitivas claras, como inteligência artificial e realidade aumentada.
Lições para outros players tecnológicos
O contraste entre as trajetórias da Apple e da Xiaomi oferece lições valiosas para outras empresas de tecnologia que consideram entrar no mercado automotivo:
1. **Pragmatismo supera perfeccionismo**: A abordagem incremental da Xiaomi permitiu lançar um produto viável rapidamente.
2. **Parcerias estratégicas são essenciais**: A colaboração com fornecedores e fabricantes estabelecidos acelera o desenvolvimento.
3. **Integração com ecossistema existente**: Utilizar a base de usuários e produtos já estabelecidos como diferencial.
4. **Estratégia de preço competitivo**: Priorizar volume inicial para ganhar participação de mercado.
5. **Transparência no desenvolvimento**: Comunicar progressos ao mercado gera expectativa e feedback valioso.
"O setor automotivo está passando por sua maior transformação em um século, e isso abre oportunidades para novos entrantes. Mas o caso da Apple mostra que mesmo empresas com recursos quase ilimitados podem falhar se não adaptarem sua abordagem às realidades do setor", conclui Campos.
Enquanto a Xiaomi comemora seu sucesso inicial e prepara a expansão internacional de seus veículos elétricos, a indústria observa atentamente como este novo competidor poderá remodelar o mercado global de mobilidade elétrica nos próximos anos.
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