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O Papel Estratégico do Brasil na Nova Geopolítica da Energia

Por Prof. Fernando Caneppele (USP)


O século XXI assiste a uma profunda reconfiguração do tabuleiro energético global. A urgência climática impulsiona uma transição, ainda que em ritmos desiguais, rumo a fontes renováveis. Simultaneamente, crises geopolíticas e a volatilidade nos mercados de combustíveis fósseis demonstram a persistente relevância estratégica dessas fontes tradicionais. Adiciona-se a este complexo cenário a crescente demanda por minerais críticos, essenciais para as tecnologias de baixo carbono, redesenhando cadeias de valor e influenciando novas alianças e disputas internacionais. Nesse contexto de transformações e incertezas, uma questão se impõe: qual o lugar do Brasil nesse novo e dinâmico mapa geopolítico da energia?


Por Prof. Fernando Caneppele (USP)
Por Prof. Fernando Caneppele (USP)

O Brasil se encontra em uma posição singular. Dotado de uma matriz energética já consideravelmente renovável e de um vasto potencial ainda inexplorado em diversas frentes – da energia solar e eólica ao hidrogênio verde –, o país também figura como um importante produtor de petróleo e gás. Essa dualidade, somada à sua biodiversidade e ao potencial em minerais estratégicos, confere ao Brasil atributos que, se bem administrados, podem elevá-lo a um protagonista de primeira grandeza na nova ordem energética mundial. Contudo, transformar esse potencial em influência geopolítica efetiva requer mais do que recursos naturais; exige visão estratégica, capacidade tecnológica e industrial robusta, e a superação de desafios internos e externos complexos.


Uma Fundação Energética Sólida e Diversificada: O Ponto de Partida Brasileiro


A fortaleza inicial do Brasil reside na diversidade e abundância de seus recursos energéticos. Nossa tradição hidrelétrica, apesar dos recentes desafios impostos por eventos climáticos extremos e questões socioambientais, ainda representa a espinha dorsal do sistema elétrico e nos legou um conhecimento técnico valioso. A ela somam-se, com vigor crescente, as energias eólica – com destaque para o potencial onshore no Nordeste e o promissor horizonte offshore – e solar, cujos custos em queda e a vasta irradiação em território nacional apontam para uma expansão exponencial. A biomassa, historicamente relevante, continua a oferecer oportunidades, especialmente na bioeletricidade e nos biocombustíveis avançados.


Nesse leque de renováveis, emerge o hidrogênio verde (H2V) como uma nova fronteira promissora. O Brasil, com sua capacidade de gerar energia limpa a custos competitivos, desponta como um candidato natural a líder na produção e exportação de H2V e seus derivados, como a amônia verde, podendo abastecer mercados internacionais e descarbonizar setores industriais de difícil abatimento.


Paralelamente, não se pode ignorar o papel das vastas reservas de petróleo e gás, especialmente as do pré-sal. Embora a transição energética global aponte para uma redução gradual da dependência de fósseis, estas fontes ainda serão cruciais por décadas, tanto para a segurança energética interna quanto como importante ativo econômico e de exportação. O desafio aqui reside em conciliar sua exploração com rigorosos critérios ambientais e sociais, e utilizar as receitas geradas para impulsionar, paradoxalmente, a própria transição para uma economia de baixo carbono.


Adicionalmente, o subsolo brasileiro guarda importantes reservas de minerais críticos para a transição energética, como lítio, nióbio, grafita e terras raras. A exploração sustentável e o beneficiamento local desses recursos podem posicionar o Brasil como um fornecedor chave nessas novas cadeias globais, agregando valor e reduzindo a dependência de poucos fornecedores mundiais.


Capacidade Tecnológica e Industrial: Construindo os Pilares da Autonomia Estratégica


A posse de recursos naturais, por si só, não garante protagonismo. É crucial desenvolver e adensar a capacidade tecnológica e industrial nacional. O Brasil já demonstrou competência em certas áreas, como na tecnologia para exploração de petróleo em águas profundas e na cadeia de biocombustíveis. No entanto, em setores emergentes como o de equipamentos para energia solar e eólica, e mais ainda no de hidrogênio verde e baterias, ainda existe uma considerável dependência de tecnologias e componentes importados.


A oportunidade reside em fomentar políticas industriais ativas que incentivem a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação (PD&I) local, a formação de capital humano especializado e a atração de investimentos para a produção nacional. A criação de clusters tecnológicos, o fortalecimento da colaboração entre universidades e empresas, e o uso estratégico de compras governamentais podem ser instrumentos valiosos para internalizar elos críticos das cadeias produtivas da energia limpa. Dominar essas tecnologias não apenas reduziria a dependência externa, mas também abriria mercados para a exportação de produtos e serviços de alto valor agregado.


O Brasil no Cenário Internacional: Da Diplomacia Energética à Ação Concreta


Historicamente, o Brasil tem mantido uma postura ativa nos fóruns internacionais sobre clima e energia, defendendo o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e destacando sua matriz energética renovável. A realização da COP30 em Belém, em 2025, representa uma oportunidade única para o país não apenas sediar, mas liderar pelo exemplo, apresentando metas ambiciosas e, crucialmente, planos concretos para alcançá-las.


O posicionamento estratégico do Brasil deve ir além da diplomacia ambiental. O país tem potencial para se tornar um fornecedor confiável de energia limpa para o mundo, seja através da exportação de elétrons (via interconexões), de hidrogênio verde ou de produtos industrializados com baixa pegada de carbono. Isso requer uma política externa energética assertiva, que identifique parceiros estratégicos e negocie acordos que beneficiem o desenvolvimento nacional, garantindo acesso a mercados e tecnologias.


Desafios no Horizonte: Obstáculos Internos e Complexidades Externas


A jornada para consolidar o Brasil como um ator estratégico na geopolítica da energia não é isenta de percalços. Internamente, a instabilidade política e a insegurança jurídica e regulatória ainda afugentam investimentos de longo prazo. Gargalos de infraestrutura, como a expansão das redes de transmissão para escoar a energia de novas fronteiras renováveis e a modernização de portos para a exportação de H2V, precisam ser urgentemente endereçados. Questões socioambientais complexas, envolvendo licenciamento de grandes projetos e o respeito aos direitos de comunidades tradicionais e indígenas, demandam um diálogo transparente e soluções justas para não comprometer a legitimidade da expansão energética. Acima de tudo, é imperativo o estabelecimento de políticas energéticas e industriais de Estado, de longo prazo, que transcendam ciclos políticos.


Externamente, o Brasil enfrenta um cenário de intensa competição internacional por investimentos, tecnologias e mercados. Grandes potências já estão se movimentando para garantir sua própria segurança energética e liderança nas tecnologias do futuro. Barreiras comerciais e subsídios em outros países podem dificultar a competitividade dos produtos energéticos brasileiros. Além disso, pressões geopolíticas podem tentar influenciar as escolhas energéticas e alianças estratégicas do país.


Conclusão: Construindo o Futuro Energético do Brasil com Estratégia e Determinação


O Brasil possui todos os predicados – recursos naturais abundantes e diversificados, um mercado interno considerável e uma tradição de inovação em certos nichos energéticos – para se firmar como um ator central e influente na nova geopolítica da energia. Contudo, esse papel não será conquistado por inércia.


Transformar potencial em realidade exige uma visão estratégica clara, um planejamento robusto e, fundamentalmente, uma ação coordenada entre governo, setor privado, academia e sociedade civil. É preciso investir consistentemente em ciência, tecnologia e inovação, adensar nossas cadeias produtivas, modernizar nossa infraestrutura e garantir um ambiente de negócios estável e previsível.


O posicionamento estratégico do Brasil no cenário energético global não é apenas uma questão de oportunidade econômica ou de influência internacional; é também um imperativo para o nosso próprio desenvolvimento sustentável. Ao liderar pelo exemplo na construção de um futuro energético mais limpo, seguro e justo, o Brasil não apenas contribuirá para as metas globais, mas, sobretudo, garantirá um futuro mais próspero e resiliente para todos os brasileiros. A janela de oportunidade está aberta. Aproveitá-la com a ambição e a determinação que o momento exige dependerá de um debate qualificado e contínuo, para o qual a expertise técnica e acadêmica se mostra cada vez mais essencial na formulação de estratégias assertivas.


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