top of page

O PREÇO DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: DÍVIDAS, CURTAILMENT E O FUTURO DAS RENOVÁVEIS

O setor energético brasileiro está passando por um momento desafiador e cheio de decisões estratégicas difíceis. Entre vendas de ativos multimilionários, cortes inesperados na geração e dificuldades financeiras enfrentadas por empresas de comercialização, fica claro que cada movimento tem um efeito em toda a cadeia de energia do país. Neste artigo, busco trazer uma visão detalhada desses acontecimentos, mostrando os números, os impactos das regras do setor e fenômenos como o curtailment, que têm moldado a realidade das empresas e do mercado como um todo.


O PREÇO DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: DÍVIDAS, CURTAILMENT E O FUTURO DAS RENOVÁVEIS
O PREÇO DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: DÍVIDAS, CURTAILMENT E O FUTURO DAS RENOVÁVEIS

A VENDA DA COMÉRC PELA VIBRA


A Vibra (VBBR3), conhecida por operar postos de gasolina, surpreendeu o mercado ao colocar a geradora de energia Comerc à venda apenas alguns meses após a aquisição. Para conduzir a transação, a companhia contratou o Goldman Sachs.


O valor pago pela Comerc foi de aproximadamente R$ 7 bilhões, sendo que em janeiro a Vibra adquiriu 50% da geradora por R$ 3,7 bilhões, alcançando uma participação de 98,7%. No entanto, o preço tem sido um obstáculo, com potenciais compradores oferecendo valuations menores.


Essa possível venda é considerada estratégica, pois permite à Vibra desalavancar-se, focar em seu core business e fortalecer seu perfil de risco e retorno. A dívida líquida da Vibra em junho de 2025 atingiu R$ 21 bilhões, frente a R$ 10,4 bilhões em junho de 2024, principalmente devido à aquisição da Comerc. O lucro líquido no segundo trimestre de 2025 caiu 66,3% na base anual, chegando a R$ 292 milhões.


PROBLEMAS FINANCEIROS NO SETOR DE GERAÇÃO DE ENERGIA


A indústria de energia solar e eólica no Brasil tem enfrentado sua pior crise, impulsionada principalmente pelo fenômeno do curtailment, ou cortes de geração. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem imposto interrupções na produção de usinas, especialmente as renováveis (eólica e solar), devido a gargalos na transmissão de energia, notadamente do Nordeste para o Sul e Sudeste do país.


Esses cortes resultam em prejuízos financeiros substanciais para as geradoras, tornando projetos inviáveis e desestimulando novos investimentos. A Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) estima um prejuízo total de R$ 700 milhões para geradores eólicos entre agosto de 2023 e o final de 2024. Já a Absolar, associação do setor de energia solar, calcula perdas de R$ 50 milhões para o setor solar de abril a julho do ano corrente.


Diversas empresas foram afetadas, incluindo a 2W Ecobank, que entrou com pedido de recuperação judicial, e a Rio Alto Energia Renováveis, que buscou proteção temporária contra credores para reestruturar dívidas. A Aeris, maior produtora de pás para parques eólicos, também reestruturou suas dívidas após cortes de empregos. Usinas específicas, como a solar Banabuiu (CE) da SPIC Brasil e o complexo eólico Serra do Mel II B (RN) da Equatorial (EQTL3), registraram frustrações de geração superiores a 50%. Outras grandes elétricas como Engie Brasil (EGIE3), Alupar (ALUP11), Voltalia e Elera (da Brookfield) também sentiram os impactos.


Outro exemplo a ser citado é a Raízen que é um grande player de açúcar, etanol e combustíveis, registrou prejuízo de R$ 2,57 bilhões no 3º trimestre da safra 2024/25, com dívida líquida de R$ 49 bilhões. Para reduzir endividamento, vendeu ativos, incluindo 55 usinas por R$ 600 milhões. A Cosan não fará novos aportes, exigindo que a Raízen se capitalizar. O caso mostra como até grandes empresas sofrem com ciclos de crescimento seguidos de alta de juros e fatores macroeconômicos.


Além dos prejuízos diretos, as empresas são forçadas a comprar energia no mercado para honrar seus contratos, gerando custos adicionais. A incerteza regulatória e a falta de ressarcimento integral pelos cortes desestimulam investimentos em novas usinas renováveis, comprometendo os objetivos de transição energética do Brasil. A ISA Energia Brasil, por exemplo, registrou uma dívida líquida de R$ 12,8 bilhões e uma alavancagem Dívida Líquida/EBITDA de 3,43x em julho de 2025, enquanto a Voltalia projetou um impacto de 40 milhões de euros em seu EBITDA de 2024 devido aos cortes.


PROBLEMAS FINANCEIROS DE COMERCIALIZADORAS DE ENERGIA


O mercado livre de energia no Brasil tem enfrentado um crescente risco de inadimplência por parte das comercializadoras, o que tem gerado pressão por regras mais rigorosas no setor. Um exemplo notório é o caso das comercializadoras 2W Ecobank e Gold Energia, que juntas acumulam uma dívida de mais de R$ 3,3 bilhões no mercado livre de energia.

A 2W Ecobank entrou em recuperação judicial com um rombo de R$ 2,2 bilhões, enquanto a Gold Energia, em recuperação extrajudicial, deve pouco mais de R$ 1,15 bilhão.


As empresas atribuem suas dificuldades financeiras à volatilidade do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que em 2024 e 2025 variou significativamente, impactando sua liquidez. A 2W também mencionou atrasos na implantação de investimentos em geração própria devido à insolvência da empreiteira responsável.


Em suas propostas de recuperação, a Gold Energia, por exemplo, propõe pagar apenas 2,5% da dívida com cada credor, com um limite global de R$ 25 milhões, e o restante seria pago ao longo de dez anos em caso de um 'evento de liquidez', como a venda de ativos. A fragilidade financeira de algumas comercializadoras levanta preocupações sobre um possível risco sistêmico para o setor elétrico como um todo.


CURTAILMENT E SEUS IMPACTOS NO SETOR ELÉTRICO


O curtailment, ou corte de geração, é uma medida imposta pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para garantir a segurança e o equilíbrio do sistema elétrico.


As condições para essa restrição são definidas pela REN ANEEL 1.030/2022 e incluem indisponibilidade externa (gargalos na transmissão), atendimento a requisitos de confiabilidade elétrica e razão energética (descasamento entre oferta e demanda).

Em 2024 e 2025, o curtailment foi ampliado devido a fatores como o atraso na entrada em operação de novas linhas de transmissão, a expansão da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD) e uma operação mais conservadora do ONS após o apagão de agosto de 2023. Embora a Lei 10.848/2004 preveja o ressarcimento aos geradores pelos cortes, a regulamentação atual (REN ANEEL 1.030/2022) restringe o reembolso apenas para indisponibilidade externa, deixando as perdas por confiabilidade e razão energética a cargo das geradoras.


Financeiramente, isso obriga os geradores de energia eólica e solar a comprar energia no Mercado de Curto Prazo (MCP) a preços voláteis para cumprir seus contratos, resultando em prejuízos significativos. A FSET estimou um prejuízo de R$ 710 milhões para eólicas e R$ 165 milhões para solares de janeiro a setembro do ano passado. Os cortes de geração aumentaram consideravelmente, passando de 4,8% para 34,8% em solares e de 2,2% para 18,1% em eólicas entre abril e setembro.


A incerteza regulatória e a falta de ressarcimento integral têm levado a uma crescente judicialização no setor, com liminares favoráveis aos geradores sendo suspensas pelo STJ. Essa situação deteriora a percepção de risco dos investidores, ameaçando a viabilidade econômica de projetos renováveis e, consequentemente, a transição para uma matriz elétrica mais limpa. O ONS projeta que o curtailment energético deve aumentar até 2029, com cortes médios acima de 10% para eólica e 20% para solar, caso todas as usinas com CUST (Custo Unitário de Serviço de Transmissão) entrem em operação.


CONCLUSÃO


O setor energético brasileiro, em especial os segmentos de geração e comercialização de energia, enfrenta um cenário de desafios financeiros complexos. A decisão da Vibra de vender a Comerc, pouco tempo após sua aquisição, é um reflexo das pressões financeiras e estratégicas que permeiam o mercado. O alto endividamento da Vibra, em parte decorrente da aquisição da Comerc, e a queda em seu lucro líquido, ilustram a complexidade de operar em um ambiente de transição energética e abertura de mercado.

Paralelamente, o fenômeno do curtailment tem imposto perdas bilionárias às geradoras de energia renovável, especialmente eólica e solar. A falta de infraestrutura de transmissão adequada e as regras de ressarcimento que não cobrem todas as perdas têm desestimulado novos investimentos, colocando em risco a expansão da matriz energética limpa do país. A judicialização crescente e a incerteza regulatória agravam ainda mais esse quadro.


No segmento de comercialização, casos como os da 2W Ecobank e Gold Energia, com dívidas que somam bilhões de reais, evidenciam a fragilidade de algumas empresas. A recuperação judicial e extrajudicial dessas empresas, com propostas de pagamento que preveem grandes descontos, ressaltam a necessidade de maior rigor e transparência no mercado livre de energia.


Em suma, o setor energético brasileiro está em um momento de reajuste, onde a busca por eficiência, a superação de gargalos de infraestrutura e a revisão de marcos regulatórios são cruciais para garantir a estabilidade financeira das empresas e o avanço da transição energética no país.


Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
Foxess-300x300-1.gif
Solis-300x300-1.gif
SOLUÇÕES PARA FIXAÇÃO (715 x 115 px) (120 x 600 px).gif
120x600.gif
Brazil_Web-Banner_120 × 600.gif
120x600 Thopen.gif
120 × 600.gif
AFFOZ 2025 - 06038 Trade Maio - cards_03 servicos_01 1080x1920px.jpg
EnergyChannel

एनर्जी चैनल ब्राज़ील

अंतर्राष्ट्रीय चैनल

प्रत्येक देश में समर्पित संवाददाता।

 

हमारी सेवाएँ:
वेबसाइट और ऐप के साथ 10 देशों में व्यापक डिजिटल उपस्थिति
अंतर्राष्ट्रीय टीवी और वेबटीवी प्रसारण
अंतर्राष्ट्रीय ऊर्जा नवाचार वर्षपुस्तिका
एनर्जी चैनल अकादमी

 

हमारे चैनल:
वैश्विक
चीन
इटली
मेक्सिको
ब्राज़ील
भारत
फ़्रांस
जर्मनी
संयुक्त राज्य अमेरिका
दक्षिण कोरिया

 

ऊर्जा क्षेत्र में नवीनतम नवाचारों और रुझानों से अवगत रहने के लिए हमें फ़ॉलो करें!

ग्राहक सेवा केन्द्र

फ़ोन और व्हाट्सएप
+55 (11) 95064-9016

 

ईमेल
info@energychannel.co

 

हम जहाँ थे

अव. फ़्रांसिस्को मताराज़ो, 229 - सुइट 12, पहली मंजिल - अगुआ ब्रांका नेबरहुड | पर्डिज़ेस बिजनेस सेंटर कॉन्डोमिनियम बिल्डिंग - साओ पाउलो - एसपी, 05001-000

QuiloWattdoBem

और जानें

हमारे बारे में

उपभोक्ता गाइड

सदस्यता

हमसे संपर्क करें

सहायता

साइट मैप

संबंधित लिंक

समाचार

स्थायित्व

 

नवीकरणीय ऊर्जा

विद्युत गतिशीलता

हाइड्रोजन

 

ऊर्जा भंडारण

​​

EnergyChannel Group - Especializada em notícias sobre fontes renováveis

Todos os direitos reservados. |  Av. Francisco Matarazzo, 229 - conjunto 12 Primeiro Andar - Bairro - Água Branca | Edifício Condomínio Perdizes Business Center - São Paulo - SP, 05001-000

bottom of page