Os Desafios da Eletrificação do Transporte Coletivo nas Cidades Brasileiras
- Energy Channel United States

- 18 de jun.
- 4 min de leitura
Por Marco Saltini, Vice-president at VW Truck & Bus
Com o avanço das discussões sobre sustentabilidade e a necessidade urgente de redução das emissões de gases de efeito estufa, a eletrificação do transporte coletivo desponta como uma solução estratégica para os centros urbanos brasileiros. No entanto, apesar dos benefícios ambientais e econômicos associados à transição dos ônibus a diesel para modelos elétricos, as cidades brasileiras enfrentam uma série de desafios que tem dificultado a consolidação dessa nova solução de mobilidade.

Um dos principais entraves à eletrificação está na ausência de infraestrutura adequada.
Se por um lado vemos a crescente presença de automóveis elétricos ou híbridos plug in circulando nas grandes cidades brasileiras, a situação para as frotas de ônibus urbanos nestas cidades é bem mais complexa.
A rede de abastecimento elétrico, por exemplo, não está preparada para atender à demanda de carregamento em larga escala. A instalação de eletropostos, subestações, pontos de recarga e sistemas de gerenciamento inteligente da energia exige altos investimentos e planejamento urbano integrado, o que ainda é uma barreira em muitas cidades.

Além disso, os sistemas de transporte atuais foram concebidos com base em veículos movidos a combustíveis fósseis. A adaptação da malha viária, garagens e terminais de ônibus para atender às novas exigências tecnológicas é um processo complexo e dispendioso e precisa necessariamente ser planejado como um todo. Não basta apenas a aquisição dos veículos, é preciso principalmente equacionar a questão da recarga destes veículos.
Há de se considerar por exemplo que boa parte destes ônibus voltam às garagens no inicio da madrugada e tem que minimamente fazer uma higienização (limpeza, lavagem), manutenção (e não apenas de sistema de propulsão mas de todos os itens que compõe por exemplo a carroceria) e recarregar para que no inicio da manhã já esteja apto a circular novamente.
É impossível resolver estas situações? Claramente não, mas é preciso planejar adequadamente as soluções e desafios, que não são poucos.
O custo de aquisição de ônibus elétricos ainda é significativamente superior ao dos modelos convencionais a diesel. Embora os veículos elétricos tenham menor custo operacional ao longo da vida útil (menos manutenção e menor gasto com energia em comparação ao diesel), o investimento inicial elevado dificulta sua adoção em larga escala, especialmente para prefeituras e empresas concessionárias com orçamentos limitados.
Esse cenário exige a criação de políticas públicas de financiamento, subsídios e incentivos fiscais, além de parcerias público-privadas para viabilizar a eletrificação de forma escalável e sustentável.
Isto tem sido uma prática em países desenvolvidos e até mesmo em alguns países em desenvolvimento mas não temos visto ações concretas no Brasil.
A eletrificação do transporte coletivo requer diretrizes claras e articulação entre os níveis federal, estadual e municipal. No entanto, ainda há carência de políticas públicas robustas que incentivem a transição energética no setor de mobilidade urbana. Muitas iniciativas ocorrem de forma isolada, sem continuidade administrativa ou metas claras de redução de emissões.
O planejamento de longo prazo é essencial para que a transição ocorra de maneira eficiente, com integração entre transporte, energia e desenvolvimento urbano. A criação de marcos regulatórios, metas de eletrificação e programas de capacitação técnica são passos fundamentais para impulsionar este processo.

A operação e manutenção de ônibus elétricos exigem conhecimentos técnicos específicos que ainda são escassos no Brasil. A formação de profissionais capacitados, desde motoristas até técnicos de manutenção e engenheiros, é indispensável para garantir a eficiência e segurança do sistema. Lembremos que estes veículos operam com alta tensão e portanto os cuidados com manutenção são específicos.
Além disso, é preciso preparar todo o ambiente que envolve a circulação desta tecnologia. Por exemplo, em caso de acidentes, como fazer o resgate de vitimas sem por em risco as próprias vítimas e as equipes de resgate.
O Brasil é um país de dimensões continentais e grande desigualdade entre suas cidades. Enquanto capitais como São Paulo, Curitiba e Salvador já iniciaram programas-piloto com ônibus elétricos, municípios de médio e pequeno porte ainda enfrentam dificuldades até mesmo para renovar suas frotas a diesel por veículos com tecnologias mais avançadas, como os que atendam aos limites da atual legislação de emissões do PROCONVE (P8/Euro 6).
A adoção de políticas públicas inclusivas, que contemplem diferentes realidades regionais, será crucial para que a eletrificação do transporte coletivo não acentue ainda mais as desigualdades urbanas.
A eletrificação do transporte coletivo de passageiros é um passo necessário para a construção de cidades mais sustentáveis, limpas e eficientes. Porém, sua implementação no Brasil depende de ações coordenadas, investimentos contínuos e uma visão estratégica de futuro.
Superar os desafios técnicos, econômicos e institucionais exige não apenas vontade política, mas também o engajamento da sociedade civil, do setor privado e da comunidade científica. A mobilidade elétrica não é uma utopia distante — é um caminho possível, desde que percorrido com planejamento, inovação e compromisso.
Por fim, é fundamental considerar também as potencialidades brasileiras para o uso de biocombustíveis como o biodiesel, HVO e Biometano. Isto não pode e não deve ser desprezado. São alternativas que podem garantir uma transição adequada dentro de um planejamento que permita uma descarbonização do transporte que deve ser o principal objetivo para uma mobilidade sustentável.
Os Desafios da Eletrificação do Transporte Coletivo nas Cidades Brasileiras






























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