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Qualidade, Confiança e Bancabilidade: A Tríade Inegociável da Energia Solar

Por Daniel Pansarella


O Brasil vive um momento de expansão meteórica no setor de energia solar.


Qualidade, Confiança e Bancabilidade: A Tríade Inegociável da Energia Solar
Qualidade, Confiança e Bancabilidade: A Tríade Inegociável da Energia Solar

Dados recentes da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e da SolarPower Europe posicionam o país como o quarto maior mercado do mundo, tendo adicionado quase 19 GW de potência em 2024 e atraído mais de R$ 54 bilhões em novos investimentos – um crescimento de 30% em relação ao ano anterior. Com 56 GW de capacidade instalada, a fonte solar já representa 22,5% da matriz elétrica nacional, consolidando-se como a segunda maior fonte do país.


Contudo, sob a superfície deste crescimento vertiginoso, uma perigosa correnteza se forma. A busca incessante por custos mais baixos está levando desenvolvedores e empreendedores a sacrificar o que deveria ser inegociável: a qualidade, a confiança técnica e a bancabilidade dos projetos. Esta não é uma crítica a empresas menores que buscam seu espaço para crescer, nem uma defesa incondicional de marcas internacionais consolidadas. É um alerta sobre uma mentalidade de curto prazo que pode minar a sustentabilidade econômica de todo um setor, transformando o sonho da energia limpa e competitiva em um pesadelo de manutenção e perdas financeiras.


Módulos Fotovoltaicos: O Risco do "Tier Shit"

No jargão do mercado, a classificação Tier 1, criada pela BloombergNEF (BNEF), é frequentemente brandida como um selo de qualidade. Embora sua função primária seja atestar a bancabilidade de um fabricante – sua solidez financeira e capacidade de honrar garantias de longo prazo, como 12 anos para o produto e 30 anos para a performance em módulos bifaciais vidro-vidro –, ela serve como um importante filtro de confiança. Um fabricante Tier 1 passou pelo crivo rigoroso de múltiplos financiadores internacionais, que não arriscariam seu capital em produtos de baixa confiabilidade. A própria BNEF, contudo, recomenda enfaticamente que a lista não seja usada como medida de qualidade técnica, mas sim como indicador de estabilidade financeira e capacidade de suprimento.


Em contrapartida, assistimos à proliferação do que eu mesmo acabei disseminando e referenciando provocativamente ao mercado como "Tier Shit": produtos de fabricantes que não se responsabilizam pela entrega prometida. Estes módulos, frequentemente comercializados com um desconto de 10% ou mais em relação aos produtos de fabricantes responsáveis, escondem em sua composição a semente de problemas futuros. A prática do "Fake Power", onde um painel entrega uma potência inferior à especificada em seu datasheet, é um exemplo claro desta má-fé. Um módulo vendido como 555 Wp pode, na realidade, gerar apenas 535 Wp quando testado ainda novo, uma perda imediata de quase 4% na capacidade de geração.


"Hipoteticamente, por mais que todo o processo de fabricação de um módulo seja perfeito, se for usado uma célula de má qualidade, o produto final continuará sendo ruim. (...) Não ficará bom, não será durável. E como muitas das vezes a má qualidade da célula não é perceptível a olho nu, elas são usadas por fabricantes de má fé (e aceita por alguns distribuidores, é importante frisar) na fabricação dos módulos sem receios de prejudicar o cliente final", explica Thiago Mingareli, gerente técnico da Amara NZero Brasil.


O cerne do problema reside no uso de células fotovoltaicas de qualidade duvidosa. Embora não exista uma norma internacional que regulamente a classificação de células, há um consenso de mercado sobre quatro níveis de qualidade: Grade A (células perfeitas, sem defeitos), Grade B (imperfeições visuais sem impacto elétrico imediato), Grade C (danos elétricos) e Grade D (células quebradas ou inutilizáveis). O problema é que células Grade B e C, embora mais baratas, degradam-se prematuramente, causando hotspots, perdas de eficiência e, em última análise, comprometendo a geração e a segurança da usina.


Testes de eletroluminescência (EL), que funcionam como um "raio-X" do painel, revelam outro problema: o "módulo xadrez", onde células de qualidades diferentes são misturadas no mesmo painel. Esta prática causa mismatch entre as células, similar ao problema de montar uma string com módulos de características elétricas diferentes, resultando em perdas de geração e, em casos graves, danos ao sistema.


A falta de rastreabilidade na produção, a ausência de programas robustos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e estruturas tributárias duvidosas são características comuns desses fornecedores. Empresas que alcançam faturamentos expressivos e momentâneos à custa da longevidade dos ativos de seus clientes, sem a capacidade financeira real para honrar garantias de décadas, representam um risco sistêmico para o setor.


Trackers: O Vácuo de Bancabilidade

Se nos módulos fotovoltaicos a classificação Tier 1 oferece um norte, nos trackers (seguidores solares), o cenário é mais nebuloso. Não existe uma classificação de bancabilidade consolidada para estes equipamentos, abrindo uma perigosa lacuna de credibilidade. Empresas crescem de forma desordenada e desproporcional à sua efetiva capacidade financeira, muitas vezes amparadas por estruturas tributárias "criativas", e aplicam a mesma "criatividade" na especificação dos materiais e na resistência dos produtos.


O uso de aço com especificações inferiores, sem as devidas certificações internacionais de qualidade e resistência, é uma bomba-relógio. Em um país continental como o Brasil, com diferentes regimes de ventos – desde as rajadas intensas do Nordeste até as condições mais amenas do Sul – e níveis de corrosão variados conforme a proximidade do litoral, um tracker mal projetado ou construído com material inadequado está fadado a falhas prematuras. Os custos de operação e manutenção (O&M) disparam quando estruturas começam a apresentar corrosão acelerada, motores falham por subdimensionamento ou componentes mecânicos se desgastam prematuramente.


A ausência de um time técnico robusto, de processos de comercialização formais e de certificações com reconhecimento internacional cria um ambiente de incerteza. Quando os problemas de qualidade começam a aparecer – e eles inevitavelmente aparecem –, a sustentabilidade econômica dos projetos é colocada em xeque. A geração de energia é diretamente impactada por paradas não programadas, e o retorno sobre o investimento (ROI) projetado se evapora.


Inversores: O Coração Negligenciado

O mesmo raciocínio se aplica aos inversores, o coração do sistema fotovoltaico. A escolha de marcas sem uma estrutura técnica local robusta, com pós-venda e suporte adequados para atender às intempéries de um clima diverso e às condições climáticas extremas de diferentes regiões brasileiras, é um erro estratégico com consequências financeiras severas.


Um inversor que falha em uma região remota, sem uma equipe de suporte local capacitada e sem peças de reposição disponíveis, pode significar semanas de produção perdida. O prejuízo acumulado por dias de geração interrompida jamais será compensado pelo desconto inicial obtido na compra do equipamento. Além disso, a redução recente nos prazos de garantia de inversores e microinversores, observada em algumas marcas distribuídas no Brasil, é um sinal de alerta sobre a sustentabilidade financeira desses fornecedores.


A Escolha Inegociável: LCOE Versus CAPEX

A corrida para baixar o CAPEX (investimento inicial) está cegando parte do mercado para o que realmente importa: o LCOE (Custo Nivelado de Energia) e a rentabilidade do projeto ao longo de sua vida útil de 25 a 30 anos. A economia aparente na compra de um componente de baixa qualidade se pulveriza rapidamente com os custos adicionais de O&M, a perda de receita pela baixa performance e o risco real de o fornecedor não existir mais para honrar sua garantia quando ela for necessária.


O Código de Defesa do Consumidor é claro ao responsabilizar toda a cadeia de fornecimento – fabricante, distribuidor e integrador – em caso de informações errôneas ou falsas ao cliente final, cabendo multa, substituição do produto e até mesmo detenção caso comprovada a fraude. O ditado "o barato sai caro" nunca foi tão pertinente.


O Caminho da Maturidade

O futuro dos investimentos em parques solares no Brasil depende de uma maturação do mercado. Desenvolvedores, investidores e financiadores precisam entender que qualidade, confiança técnica e bancabilidade não são luxos ou diferenciais competitivos, mas os pilares fundamentais que sustentam a viabilidade econômica de qualquer projeto de energia. Sacrificar essa tríade em nome de um preço marginalmente menor não é uma estratégia de negócio inteligente; é um convite ao prejuízo e à erosão da confiança em um setor que tem tudo para ser protagonista da transição energética brasileira.


A escolha deve ser clara: buscar fabricantes com as principais certificações internacionais (Bloomberg Tier 1, PVEL, PVtech, RETC, PVBL, DNV GL Top Performer, TÜV Rheinland), com atuação global em mercados exigentes como Estados Unidos e Europa, com rastreabilidade de produção e, acima de tudo, com a capacidade financeira comprovada de honrar garantias de longo prazo.


Qualidade e confiança técnica não podem ser negociáveis. O futuro do setor solar brasileiro depende disso.


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