Transição Energética no Brasil: Incertezas, Prioridades e Oportunidades à Vista
- Energy Channel United States

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de jul.

Por Janayna Bhering – Especialista em Inovação e membro do Comitê Brasileiro do World Energy Council; e Talita Covre, Gerente de Transições Energéticas, World Energy Council
O World Energy Issues Monitor 2025, iniciativa global do World Energy Council (WEC), acaba de chegar à fase de comentários nacionais, e os dados do Brasil revelam uma fotografia rica em contrastes, desafios e potenciais transformadores. Como parte do processo de construção do Comentário Brasileiro, tive a oportunidade de contribuir com reflexões sobre quatro dimensões centrais: incertezas críticas, prioridades de ação, pontos cegos e experiências inspiradoras.
Se você quiser saber mais do trabalho do Brasil no World Energy Council, visite esta página: https://www.worldenergy.org/world-energy-community/members/entry/brazil_
🔶 Incertezas críticas: O futuro em aberto da nossa transição energética
Temas como segurança energética, acesso a financiamento para inovação e adaptação às mudanças climáticas se destacam como áreas de alto impacto e elevada incerteza. Essas questões refletem o cenário global volátil, mas ganham contornos próprios no Brasil: dependência de fontes hídricas vulneráveis, descompasso entre política industrial e ambiental, e gargalos regulatórios que atrasam investimentos. Também se destaca a fragmentação de instrumentos de financiamento e incentivos à transição energética, que embora existentes, permanecem dispersos entre ministérios, agências e fundos, dificultando a previsibilidade para investidores e a coerência na execução de políticas públicas.
Além disso, há uma disputa narrativa e política em torno do papel dos combustíveis fósseis na transição, o que acentua a incerteza sobre a trajetória de médio prazo. Para lidar com isso, precisamos de modelos mais flexíveis, integrados e adaptativos, que levem em conta as especificidades territoriais e sociais do país.
🔷 Prioridades de ação: O que já sabemos que precisa ser feito
Do lado das ações de curto prazo, há mais convergência: eletrificação de frotas, modernização das redes de transmissão, expansão das energias renováveis e investimentos em eficiência energética aparecem como temas com alto impacto e menor incerteza.
O desafio não está no “o quê fazer”, mas em como e com que velocidade. O Brasil já dispõe de instrumentos — como o Programa MOVER, o RenovaBio, e as chamadas públicas da Aneel — mas ainda precisa destravar investimentos, acelerar a regulamentação e ampliar a capacitação técnica local. Nesse sentido, a interoperabilidade entre políticas industriais, energéticas e ambientais aparece como um fator crítico para a efetiva implementação das prioridades mapeadas. Mecanismos de coordenação intersetorial podem contribuir substancialmente com a escalabilidade e replicabilidade das soluções já testadas em iniciativas isoladas.
⚪ Blind spots: O que ainda não enxergamos com clareza
O mapa também revela temas negligenciados, ainda com baixo impacto percebido e baixa incerteza. Entre eles, destacam-se: gestão de resíduos energéticos, inclusão produtiva na transição e o papel da bioeconomia de baixo carbono. A baixa visibilidade da bioeconomia contrasta com o potencial estratégico do Brasil na articulação entre biodiversidade, produção de bioenergia e desenvolvimento regional. A construção de cadeias de valor sustentáveis e rastreáveis, especialmente na Amazônia e no Cerrado, pode transformar esse ponto cego em uma vantagem competitiva, se apoiada por políticas de inclusão produtiva e instrumentos de certificação ambiental robustos.
A pouca visibilidade desses temas é um sinal de alerta. A transição energética não é apenas tecnológica, mas estrutural e social, e se não for inclusiva desde o início, pode aprofundar desigualdades. Precisamos trazê-los para o radar, conectando energia com biodiversidade, desenvolvimento regional e justiça social.
✨ Bright spots: O que o Brasil tem a ensinar
Apesar dos desafios, o Brasil também é fonte de inspiração global. A expansão das fontes renováveis, especialmente a geração distribuída solar, é um exemplo de como a descentralização energética pode fortalecer comunidades e democratizar o acesso. Outro destaque está na experiência brasileira com bioenergia e agroindústrias de baixo carbono, que vêm testando modelos de descarbonização que integram eficiência energética, aproveitamento de resíduos e uso sustentável do solo, com potencial de serem replicados em outros países tropicais com estrutura fundiária e produtiva similar.
Além disso, modelos de governança colaborativa, como os observatórios estaduais de transição justa, vêm gerando aprendizados valiosos. A articulação entre diferentes atores — governos, setor privado, academia e sociedade civil — é o caminho mais promissor para uma transição eficaz e equitativa.
O World Energy Issues Monitor 2025 reforça que a transição energética no Brasil não é apenas uma questão de matriz energética, mas de modelo de desenvolvimento. Temos clareza sobre os caminhos prioritários, mas ainda convivemos com incertezas estruturais e pontos cegos que precisam ser iluminados com dados, diálogo e inovação.
É tempo de agir com ambição, mas também com empatia e inteligência sistêmica. A energia do futuro será tão renovável quanto colaborativa.
Transição Energética no Brasil: Incertezas, Prioridades e Oportunidades à Vista






























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